Afinal, vivemos uma nova bolha na internet?

Há quase quatro anos, quando explodiram as startups da chamada web 2.0, se discute se existe uma nova bolha no mercado de internet e tecnologia. As recentes e bem sucedidas aberturas de capital (IPO, em inglês) do LinkedIn, rede de relacionamentos profissionais americana, e do Yandex, buscador russo, colocaram ainda mais foco nesta questão. Num recente artigo no Financial Times, o financista americano Steven Rattner chamou a valorização de quase 170% nas ações do LinkedIn da “maior manifestação tangível” de uma euforia que exibe todos os sintomas de uma bolha em tecnologia. Será?
No final de 2007 ficava famosa na internet uma animada paródia chamada “Here Comes Another Bubble” (algo como “Aí vem uma outra bolha”), que já questionava a existência de uma bolha na internet. Curiosamente, nos primeiros segundos o filme questionava os valores de algumas empresas como Facebook (15 bilhões de dólares), YouTube (1,65 bilhões de dólares) e Skype (2,6 bilhões de dólares). O maior problema destas empresas, na época, era que tinham muitos usuários mas um modelo de negócios ainda a ser provado.

Hoje, os valores são bem diferentes. O Facebook vem sendo negociado no mercado secundário privado a cerca de 80 bilhões de dólares, o Skype foi recentemente adquirido pela Microsoft por 8,5 bilhões de dólares e quanto valeria hoje o YouTube, que tem mais do dobro da audiência diária que todas as empresas de TV americanas, no horário nobre, somadas?

Portanto, os profetas da bolha de 2007 se mostraram bastante equivocados, pelo menos até o momento. O problema é que empresas são avaliadas pela sua capacidade de gerar lucro no futuro ponderado pelo risco disto acontecer ou não. Quem sabia em 2007 ou sabe hoje quanto estas empresas gerarão de lucro no futuro? Ninguém. Os preços refletem apenas a melhor aposta dos compradores. O crescimento continuado da audiência destas empresas e a confirmação que seus modelos de negócios são capazes de gerar receitas e lucro fez com que seus valores continuassem crescendo incrivelmente.

Os valores de hoje do LinkedIn (9 bilhões de dólares) ou Yandex (11 bilhões de dólares) são, seguramente, agressivos quando comparados aos seus balanços e outros mercados e podem não ser sustentáveis. O preços das ações embutem uma expectativa de crescimento muito grande destas empresas, e é justamente aí que reside a questão central destas avaliações. Quão grande pode ser o “Facebook dos profissionais”, no caso do LinkedIn, e o “Google da Rússia”, no caso do Yandex? Hoje o mercado hoje nos diz: serão enormes. O tempo nos dirá suas reais possibilidades, mas certamente muito do crescimento que se julgava improvável para Facebook e YouTube se mostrou verdadeiro. Sem mencionar Zynga e Groupon, que nasceram depois e já faturarão acima de 2 bilhões em 2011, de acordo com estimativas do mercado.

Somente uma análise superficial pode comparar o momento atual com a bolha de 2000. Naquele momento, vivíamos um frenesi onde acreditava-se que tudo que terminava com “.com” valia ouro e empresas que só existiram no papel, como a famosa Webvan, ícone de fracasso da bolha, faziam abertura de capital na NASDAQ. Na época, eu costumava dizer que estas empresas tinham dois ativos: um arquivo Power Point e outro Excel, ou seja, uma bonita apresentação e uma planilha e projeções financeiras, nada mais. A maioria das empresas começa assim e as que eu fundei, verdade seja dita, não foram diferentes. O problema passa a existir quando uma empesa neste estágio queima diversas etapas e abre seu capital, vendendo ações para um público que não compreende seu risco e realiza ganhos rápidos para investir na próxima, configurando uma alavancagem insustentável. Este era o cenário antes do furo da bolha.

O que vemos hoje é bem diferente, todos os exemplos citados são empresas reais, com produtos, clientes, receita e lucro (em alguns casos) de verdade. Algumas já têm quase 10 anos de mercado e tem crescimento continuado, valiosas marcas e sonoros números para apresentar. Se os valores relativos a seus fundamentos econômicos são elevados é porque espera-se alto crescimento no futuro, o que possivelmente algumas não entregarão. Mas, bolha como 2000, não. Mercado aquecido, isto sim.

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